Produtores Rurais Reagem a PDDU Impositivo e Cobram Participação: “Não Engoliremos em Silêncio”
Produtores Rurais Reagem a PDDU Impositivo e Cobram Participação: “Não Engoliremos em Silêncio”

Em um cenário tenso e carregado de frustrações, líderes do movimento rural rejeitaram veementemente a proposta do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de tratar questões relativas ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) em reuniões internas, em vez de debaterem publicamente em Audiência Pública. A proposta foi considerada uma tentativa de silenciar as vozes daqueles que há anos clamam por diálogo verdadeiro e participação ativa nas decisões que afetam diretamente suas terras, modos de vida e futuros.
A indignação dos agricultores e representantes do setor rural encontrou eco nas palavras do vereador Dr. Samuka, que admitiu, com um misto de constrangimento e franqueza, que a Câmara falhou ao seguir, sem questionamentos, as orientações da Prefeitura sobre o PDDU. “Abrimos mão de uma avaliação própria”, confessou o vereador, referindo-se à confiança depositada em técnicos do Executivo, como a então titular da SEDUR, dra. Andréa Montenegro.
Mas nem todos aceitaram essa justificativa. O assessor do bloco do governo, Marilton Trabuco, foi direto ao criticar o posicionamento da Câmara. Para ele, a instituição teve, sim, condições financeiras e estruturais de contratar técnicos especializados para acompanhar e discutir os aspectos técnicos e sociais do PDDU. Ele destacou ainda que um pedido formal nesse sentido foi feito ao vereador Herbinho — e negado. “Foram R$ 8,5 milhões investidos em um plano que sequer considerou a realidade de quem vive e trabalha no campo”, disparou Marilton.
"Goela abaixo" e a indignação no campo
O vice-presidente da Associação dos Moradores e Agricultores do Campo (AMAC), Ivo Borges dos Santos, expressou de forma contundente o sentimento de traição vivido pelos produtores rurais. Segundo ele, as medidas contidas no PDDU foram “empurradas goela abaixo”, sem qualquer diálogo ou chance de defesa para quem será diretamente impactado por suas diretrizes.
“O campo não é invisível. O silêncio imposto pela exclusão só fez crescer nossa indignação. Se a resposta da CCJ foi fechar as portas, a nossa será bater nelas com ainda mais força”, afirmou Ivo, que anunciou a elaboração de um novo requerimento para a realização de uma Audiência Pública — desta vez, com a presença obrigatória dos afetados.
Entre omissões e silenciamentos, nasce uma resistência
A crise expõe não apenas a fragilidade do processo democrático local, mas também um padrão preocupante de desconsideração pelos setores menos ouvidos da sociedade. A ausência de escuta ativa e transparente cria feridas profundas, que não cicatrizam com promessas tardias ou justificativas formais. O que está em jogo é mais do que um plano urbano — é o direito de existir, de ser ouvido, de decidir junto.
E, no final das contas, o que mais pesa não é o custo de um plano...
Mas o preço do silêncio imposto.
"Quando os donos da terra são excluídos da mesa, é a terra que começa a gritar. Nilson Carvalho"
Foto: Instagram territorio.org.br
Texto: Ambientalista, Embaixador do Direitos Humanos, Jornalista Nilson Carvalho
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